26.11.13

O show tem que continuar

Coluna Tecnologia & propaganda
Por Fernando Flessati fernandoagitorio@gmail.com ou @fernandoflessat

Um balanço do marketing de um dos maiores eventos do planeta

Campanha Rock Rio
Rock in Artplan
Sobe a estrela da Roberta Medina, como porta-voz do maior produto/evento dos últimos tempos, o Rock in Rio 2013. A nova cara dada ao evento, repaginado, provocou a venda antecipada de cerca de 10 mil ingressos, sustentada pela força da marca. Aliás, marca boa vende pelo nome.

  
Mas tudo no balanço de marketing do show é grandioso. Os números confirmam o consumo de milhões de toneladas de batatas fritas ou mais de 530 mil litros de Heineken, bebida pra ninguém botar defeito. 
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Roberta Medina: a empatia da nova geração do show

Foi bom também para marcas varejistas conservadoras, como Americanas ou Submarino, cada uma delas vendendo cerca de 24 mil produtos, para citar apenas essas duas, assim como foi bom para todos os patrocinadores que associaram suas caras ao evento da família Medina.
A adesão dos fãs na internet carreou mais 10,2 milhões de visitas e o site oficial teve cerca de 4,5 milhões de acessos e 9,2 milhões de visualizações de páginas, sendo 76% dos acessos via desk e notebook e 24% via plataformas móveis, informa a Artplan no seu balanço.
É bem verdade que o Alexa.com, site especializado em métricas de internet, joga um pouco de água fria nos números oficiais e mostra o site oficial na posição 902 no ranking brasileiro, mesmo nos melhores momentos. Diz também que o site oficial é relacionado por 496 links e o máximo de audiência buscado no Google, Yahoo e outros oscilou em 39% nos momentos de maior procura. 



 Rock e show
Campanha social todo mundo faz. Mas a Agência Artplan foi além e mandou bem com o projeto “Lixo no Lixo, Rio no Coração”, um dos temas da edição 2013 do projeto Por Um Mundo Melhor, veiculado nas principais mídias do país e estrelado pelo prefeito do Rio e pelas atrizes Fernanda Montenegro e Paolla Oliveira.
A campanha, combinada com as demais ações empreendidas pelo Rock in Rio, obteve resultados concretos, com diminuição do lixo jogado em diversas áreas da cidade, inclusive em locais onde a multa aplicada pela Prefeitura ainda não estava em vigor, o que demonstra sua eficiência, independentemente da punição. Os dividendos sociais dessa campanha vão continuar por muito tempo.
Entretenimento
Foram 91 horas de música e 160 atrações, o que por si só é grandioso. Transcorrendo na mais harmoniosa comemoração. Vários casamentos e acasalamentos realizados. Todo mundo viu o show transmitido pela TV aberta e fechada e pelas redes do Google.Beyoncé, Maiden, Spreengsteen brilharam e desequilibraram. Raulzito foi bem sacado e todo mundo saiu com a alma lavada.Bruce Springsteen bombou.
O meu Rock in Rio ganhou o mundo

11 de janeiro de 1985, era uma sexta-feira chuvosa, dessas que fazem qualquer carioca ficar em casa, e, no entanto, mais de um milhão de pessoas reunidas, aglomeradas, amassadas se acotovelavam ansiosas esperando pela magia do som, por realizar sonhos há muito postergados de ver seus ídolos subirem ao palco, como faziam desde que Chuck Berry e muitos roqueiros exportaram o rock mundo afora. Era uma vitória e um ponto de honra para todos e para o Rio de Janeiro. 
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Freddie arrasou no RR1

O criador da ideia, Roberto Medina, possuía uma vantagem na manga que, no entanto, não lhe diminuía em nada a ansiedade pela estreia do Rock in Rio, mas lhe dava esperança de estar inovando. Era o DNA herdado do pai e do avô, produtores de shows no passado. Naquela noite, quando os primeiros acordes soaram, um misto de adrenalina, lama, orgulho, sexo, drogas e rock and roll se misturaram a uma euforia que eu jamais presenciara. Estava sendo forjada a lenda. Tudo certo, quando justamente a mega estrela Freddie Mercury entrou e arrasou para fazer história.
O pós Rock in Rio I foi difícil. Lembro-me do Medina contando, em almoço na Artplan, a perseguição furiosa e política do governador Leonel Brizola à cidade do rock, cobrando a fatura pelas eleições que vencera. Com a decisão do governador, mais uma vez perdia o Rio de Janeiro. Na porta da Artplan faziam fila os fornecedores, pressionando pelos pagamentos, enfim, foram tempos difíceis para o publicitário empreendedor. Mas, cá entre nós, ele já assistira seu pai vencer este tipo de pressão. Sabia desde criancinha qual a forma correta de lidar com isso. Outro momento emblemático: ouço o Chico Abrea, na época o criativo da Artplan, compartilhar pelo sistema de som do prédio da agência a vitória obtida pelo lindo logo da guitarramundo, escolhido e premiado em um importante festival de propaganda. Era mais um passo no caminho da lenda. 
1991 – Terceiro ato: seis anos depois do primeiro rockinrio, recebo o Medina, acompanhado do fiel escudeiro Marcus Xavier da Silveira, na Golden Cross, solicitando assistência médica em troca de apoio à 2ª edição do festival, que se realizaria no Maracanã. Pensei comigo: vai ser pauleira, talvez meia bomba, mas acreditei e investi o que achei que seria uma verba interessante pelo porte do evento. O resultado do investimento foi bom, mas ganhei um esporro do Milton Afonso, o então boss da Golden, por ter ousado investir em rock em vez de simplesmente pegar carona no evento. Mas o futuro mostrou que meu faro estava certo, o Rock in Rio II no Maraca perdia um pouco do brilho, perdia a lama da cidade proibida do rock renegada, mas manteve a chama acesa e deu retorno a quem investiu. O público aplaudiu Joe Cocker e Prince. A massa prestigiou, mas as roletas viciadas do velho Maraca contabilizaram muitos penetras. O retorno do projeto foi pequeno. No entanto, serviu para ganhar experiência, manter a chama acesa e como ponte para a lenda ganhar o mundo. 
Lançamentos
Globo.com lança o video360, onde o comercial é veiculado antes de todo conteúdo de notícias exibido na telinha ou na tela, informa o Meio e Mensagem.
Vem aí o aplicativo da Puma para avaliar running. Pumatrack oferece aos usuários informações exclusivas sobre desempenho e estilos de corrida quando acoplado ao iPhone. A empresa prometeu à coluna informar a avaliação de especialistas sobre o produto. Vamos aguardar.
                                                                                                 



17.11.13

Sutileza Volvo

Comerciais Volvo com Van Dame transformam a experiência de dirigir um caminhão Volvo. Dirigibilidade, estabilidade, controle e precisão levadas ao extremo, fazem 18 milhões de descidas no Google, em menos de 5 dias, parecer coisa de criança.sd



6.10.13

Mais um trabalho da TFS

Energio distribui o seu Relatório 2012 para os seus públicos estratégicos, by TFS Comunicação e Marketing



 


18.2.13

Machadinha ou iPhone? Qual a maior inovação?



Qual a maior inovação?

inovação 768 (Foto: The British Museum e divulgação)
Se você acompanha ao menos de longe as novidades tecnológicas, é provável que tenha usado, nos últimos anos, um telefone celular capaz de acessar a internet, gravar vídeos e mostrar sua localização. Há grandes chances de você ter experimentado o Facebook, o Twitter e o YouTube. Mais recentemente, talvez tenha manipulado um tablet ou leitor de livros digitais. Essas invenções são todas úteis, divertidas e facilitam a vida. Mas você chamaria alguma delas de revolucionária? Compare-as com as façanhas tecnológicas esperadas desde o século passado, como colônias humanas em Marte e na Lua, missões tripuladas a Saturno, inteligência artificial, carros voadores acessíveis, androides que imitam humanos e expectativa de vida de 150 anos. Entre 1950 e 1968, essas conquistas foram imaginadas para o fim do século XX ou o início do século XXI por escritores de ficção científica e futurólogos como Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Ray Bradbury, Philip K. Dick, Herman Kahn ou Anthony Wiener. O ex-astronauta americano Edwin "Buzz" Aldrin resumiu bem a decepção com a tecnologia atual em novembro passado: "Eles me prometeram colônias em Marte, em vez disso eu tenho Facebook".
>> Alexander J. Field: "O carro teve mais impacto que o smartphone" 

Pode-se argumentar que a decepção manifestada por Aldrin se deve às previsões exageradas, e não às invenções atuais. Vale, então, compará-las a criações revolucionárias de períodos anteriores da história. Com poucos anos de intervalo, apareceram tecnologias como a caravela e a prensa (no século XV), a calculadora e a transfusão de sangue (século XVII), o telefone e a eletricidade residencial (século XIX), o avião a jato e a bomba atômica (século XX). Todas superam, em impacto, as invenções marcantes do século XXI – boa parte delas derivada do computador pessoal e da internet, duas crias do século passado. Com menos ironia e mais estatística do que Aldrin, pesquisadores começam a se perguntar: será que a humanidade sofre de uma crise criativa? O questionamento sobre a velocidade atual de inovação importa porque as inovações de ontem garantem o bem-estar de hoje. A humanidade vive mais e melhor, nossas crianças morrem menos, estudam mais e se alimentam melhor graças a períodos de inventividade que ocorreram décadas ou séculos atrás. Sem invenções de impacto, ficará mais difícil resolver problemas que ainda desafiam a humanidade, como mais de 1 bilhão de pessoas na pobreza, o aquecimento global ou a escassez de água potável.

>> O lado bom da dificuldade 

Há alguns anos, alguns estudiosos começaram a apontar sinais de esfriamento da criatividade. Entre os mais pessimistas está o cientista social Robert Gordon, da Northwestern University, dos Estados Unidos. Ele diz que o período de ouro no aumento na expectativa de vida nos EUA ficou lá atrás, na primeira metade do século XX. Pudera: num período de menos de quatro décadas, surgiram o aquecimento residencial elétrico, o tratamento da água encanada com cloro, a insulina, a vacina contra a tuberculose e a penicilina. A expectativa de vida hoje sobe muito lentamente, porque não houve evolução parecida nas últimas décadas – e, na visão de Gordon, não há sinal de nada parecido no futuro.

Peter Thiel, criador do PayPal e investidor do Facebook, e Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez, lançarão em março o livro The blueprint: reviving innovation, rediscovering risk, and rescuing the free market (numa tradução livre, O projeto: revivendo a inovação, redescobrindo o risco e recuperando o livre mercado). Nele, os dois argumentam que o colapso econômico recente de países desenvolvidos não é meramente culpa da crise financeira mundial. A culpa, dizem, é da estagnação na tecnologia e na inovação. Segundo Thiel e Kasparov, é improvável haver algum crescimento sustentável na produtividade sem mudanças radicais na política de inovação. Num debate com Kenneth Rogoff, professor de economia da Universidade Harvard e economista-chefe do FMI de 2001 a 2003, Kasparov afirmou que produtos como o iPhone 5 pouco aprimoram nossas capacidades. E disse que as bases da ciência da computação moderna foram instaladas na década de 1970. "Nós queríamos carros voadores. Em vez disso, temos 140 caracteres", diz Thiel, parafraseando Aldrin.

O economista Alexander Field, da Universidade Santa Clara, autor de A great leap forward: 1930s depression and U.S. economic growth (Um grande salto adiante: depressão dos anos 1930 e crescimento econômico dos EUA), se propôs a calcular algo parecido com a velocidade de inovação em diferentes períodos. Fez isso medindo quanto aumentou nos Estados Unidos, desde o século XIX, a eficiência no uso combinado de mão de obra, recursos naturais e dinheiro. Muitos fatores contribuem para que, num certo período, esses recursos limitados possam ser mais bem aproveitados e resultar em mais riqueza. Um fator fundamental é a inovação. Field concluiu que a produtividade cresceu nos EUA de forma bem veloz no fim do século XIX, na reta final da Revolução Industrial, quando o mundo era coberto por ferrovias, redes elétricas e cabos de telégrafo e telefonia. Depois, houve outro salto a partir de 1929. Ele marca o esforço americano de superação da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. A partir daí, veio a queda. "Nunca mais chegamos perto daquilo (o ritmo dos anos 30)", diz Field. "Aceleramos entre 1995 e 2005, muito por causa do forte avanço da tecnologia da informação, mas, recentemente, não estamos retornando nem para essas taxas." O economista Tyler Cowen, da Universidade George Mason, acredita que, a partir dos anos 1960, a inovação de produtos em geral se tornou mais lenta e passou a se concentrar em computadores e telecomunicações. "O resto da economia ficou bem estagnada", afirma ele no livro The great stagnation (2011).

Esse tipo de análise, feito por americanos, tem muito a ver com a crise global que explodiu em 2008 e com a lenta recuperação dos Estados Unidos. Não se pode dizer, porém, que o problema esteja restrito aos americanos. Alguns países europeus reconhecidos pelo poder de inovação, como Alemanha ou Finlândia, não têm tamanho para compensar a desaceleração americana. A partir dos anos 1960, países asiáticos passaram a ocupar um lugar de destaque no cenário tecnológico global. O primeiro deles foi o Japão. Depois, veio a Coreia do Sul. Mais recentemente, emergiram a China e a Índia. Todos esses países são grandes fabricantes de equipamentos e produtores de software. O Japão entrou, porém, num período de seca criativa desde os anos 1980. A Coreia do Sul encanta o mundo com a qualidade e o design de seus carros e eletroeletrônicos, mas não tem porte para substituir os Estados Unidos. A China dispara pedidos de patentes como uma metralhadora – foram 526 mil pedidos em 2011, mais que os 503 mil dos EUA e os 342 mil do Japão. Entretanto, esse volume impressionante pouco significa. Não houve nenhuma invenção chinesa recente com impacto global.

>> Lourenço Bustani: "O Brasil é um país muito curto-prazista" 

A metralhadora chinesa sugere um problema adicional: embora as patentes sejam corriqueiramente usadas como medição de inovação, o sistema em vigor está perdendo essa utilidade. Indivíduos e organizações vêm pedindo patentes mais por questões legais – para se defender ou atacar – e menos por critérios técnicos. A propriedade intelectual é essencial para quem inventa, mas o sistema atual de patentes e direitos autorais, em muitos aspectos, está ultrapassado. "Restrições excessivas podem inibir a recombinação de tecnologias", afirma Alex Mesoudi, da Universidade de Durham, no Reino Unido, antropólogo que estuda a história da inovação tecnológica. Field, da Universidade Santa Clara, também considera as normas restritivas demais. "Não podemos dar a ninguém um monopólio longo demais. Os efeitos negativos se tornam mais fortes que os positivos", afirma.

768 Inovações Grafico Criatividade v1 (Foto: Infografia Epoca)

Além do sistema de patentes, o próprio acúmulo de conhecimento pode se tornar um problema, até que aprendamos a lidar com ele. Segundo Mesoudi, a humanidade passa hoje mais tempo aprendendo o que já foi feito do que inovando. Ele calculou que, entre 1900 e 2000, aumentou em seis anos (de 32 para 38 anos) a idade em que ganhadores do Prêmio Nobel e cientistas de destaque concluem o trabalho fundamental de suas carreiras. Para Mesoudi, o problema do acúmulo de conhecimento poderá ser enfrentado no futuro com a abertura de novas áreas de especialização. Desde a Idade da Pedra (leia a linha do tempo abaixo), a especialização em determinadas atividades tem sido uma das principais fontes de inovação, com saltos de conhecimento que trazem benefícios para toda a humanidade.
>> O mundo ainda confia na Apple? 

Felizmente, há outros motivos para termos mais expectativas otimistas. O período atual de seca pode ser encarado como nada mais do que a gestação de uma nova era de inovações radicais. Para muitos pesquisadores, a humanidade está prestes a testemunhar um ponto de virada, com inovações importantes em campos como nanotecnologia e inteligência artificial. "Há muita coisa nova, como carros sem motoristas. Eles já existem e só precisam de ajustes de ordem legal", diz Cowen, da Universidade George Mason. Além disso, toda tecnologia leva períodos longos antes de se transformar em produtos que melhoram nossa qualidade de vida. "Tecnologias precisam de décadas para seu potencial ser todo explorado", afirma Field.

A eletricidade é um exemplo clássico. Ela levou 40 anos para ter efeitos positivos sobre a produtividade industrial americana. Introduzida em 1890, passou a ser adotada por metade das casas somente na década de 1920. Só começou a empurrar o crescimento econômico na década de 1930. Os computadores pessoais começaram a ser vendidos em 1977, nos Estados Unidos. As melhorias também demoraram a aparecer. Em junho de 1987, o economista Robert Solow, que viria a ganhar o Prêmio Nobel de Economia em outubro daquele ano, escreveu no jornal The New York Times: "Você pode ver a era do computador em todos os lugares, menos nas estatísticas de produtividade". A preocupação de Solow, apelidada de Paradoxo da Produtividade, só foi sanada anos depois. "Os efeitos do computador na produtividade americana começaram a aparecer nas estatísticas em 1995", diz Field.

768 Inovações Grafico Desaceleração v1 (Foto: Infografia Epoca)

Hoje, sabemos que a inovação tecnológica não é regular nem exponencial. E não segue um padrão cumulativo. Ao longo dos milênios, é possível que os seres humanos e seus ancestrais tenham perdido repetidas vezes o conhecimento que criaram. É o que diz Luke Premo, antropólogo evolucionista da Universidade Washington State, nos Estados Unidos. Há casos históricos: a China perdeu tecnologia naval preciosa no século XV; pelos séculos seguintes, teve de se submeter à superioridade dos europeus nesse campo. Recentemente, surgiu a denúncia de que a Nasa perdeu arquivos preciosos dos anos 1960 e 1970, auge da corrida espacial. Talvez seja essa a natureza da inovação: ela caminha de forma imprevisível. Em momentos anteriores da história, forças ameaçadoras como a Alemanha nazista e a União Soviética foram as catalisadoras da inovação. Ambas impulsionaram as democracias a inovar para se defender e atacar, fosse em guerra aberta, fosse num duelo de outro tipo, como a corrida espacial. Hoje, cada democracia enfrenta inimigos de outro tipo, como os limites orçamentários, barreiras à inovação.
>> Henrique Malvar, um dos profissionais de tecnologia mais influentes do mundo 

A noção de que períodos de seca criativa dão lugar a períodos inovadores tornou-se uma ideia mais bem elaborada no século XIX. Depois de observar que o enriquecimento das nações ocorria de forma oscilante, e não constante, economistas passaram a tentar explicar o mundo de acordo com ciclos. Um dos pioneiros foi o francês Clément Juglar, um médico que pegou gosto pelas ciências sociais. Ele afirmou, em 1860, que os níveis de emprego e investimento produtivo avançavam e recuavam dentro de períodos de sete a 11 anos. Juglar foi extremamente pretensioso ao tentar encaixar um fenômeno tão complexo numa regrinha matemática. Mas sua tentativa influenciou para sempre governos e economistas. Pensadores diversos propuseram a existência de ciclos de todos os tamanhos. Nos extremos, encontramos os microciclos de três anos sugeridos pelo estatístico britânico Joseph Kitchin, em 1920, e os superciclos com cinco décadas ou mais, defendidos pelo economista soviético Nicolai Kondratiev em 1925 – o pobre Kondratiev foi executado em 1938, por ordem de Stálin (o conceito de que o capitalismo se reergueria sucessivamente das crises não foi recebido com simpatia no governo soviético). Coube ao austríaco Joseph Schumpeter, em 1939, dar à inovação o papel de protagonista dos ciclos de prosperidade e empobrecimento das sociedades. Hoje, embora possamos contar com bonanças futuras, os economistas sérios desistiram de tentar adivinhar o tamanho dessas ondas. "Acredito que inovação humana funcione em ciclos, mas não acho que eles tenham uma periodicidade", afirma Field.

Não é fácil perceber a ocorrência desses ciclos em países como o Brasil. Ainda nos faltam condições básicas para que as inovações ocorram em grande escala – vastos grupos da população com educação de alta qualidade, mentalidade empresarial nas universidades, valorização da pesquisa nas empresas, continuidade de políticas públicas que incentivem a criação. "A inovação depende de fatores que se expandem e se retraem – ela não para nunca, mas muda de intensidade", diz o engenheiro e consultor Valter Pieracciani, ex-presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e especialista no tema. "O Brasil ainda está numa fase infantil da construção desse ecossistema. Por isso, é difícil vermos esses altos e baixos." O período de incubação de uma boa ideia também é vital, e a cultura de longo prazo ainda é claudicante no Brasil. "Isso prejudica qualquer projeto ou ideia inovadora. Empresas e governos mudam seus planos constantemente", afirma Lourenço Bustani, sócio da consultoria de inovação Mandalah. O país teria muito a ganhar ao se preparar adequadamente para aproveitar um futuro ciclo de grandes inovações. Há muito a fazer até lá.